Seminário em Manaus discute potencial do biometano na agenda climática da COP30
Evento reuniu especialistas na última terça-feira (20/5) para debater o papel dos resíduos sólidos na descarbonização da economia brasileira
São Paulo, 21 de maio de 2025 – Manaus sediou nesta terça-feira (20) o seminário “Dos resíduos à descarbonização: o potencial do biometano na agenda climática da COP30”. O evento reuniu representantes de órgãos públicos, setor privado e especialistas para discutir caminhos viáveis para encerramento dos lixões e as ferramentas para descarbonizar a Amazônia.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos, da ABREMA, a região Norte é a mais crítica do país em relação ao tratamento dos resíduos sólidos urbanos. Em 2023, mais de 3 milhões de toneladas de lixo, ou seja, 62% do total gerado nas cidades do Norte, tiveram disposição final incorreta. Atualmente, o estado do Amazonas possui apenas um aterro controlado em funcionamento, que atende os municípios de Manaus e Careiro da Várzea. O espaço atingiu o limite de sua vida útil em janeiro de 2024 e, desde então, vem sendo alvo de discussões entre a prefeitura e o Ministério Público.
“A situação de Manaus é muito preocupante. Precisamos unir esforços para mudar essa realidade e o setor de resíduos tem um papel estratégico nessa agenda. O CTTR Amazonas pode resolver a maior parte dos problemas de lixões do estado e consolidar Manaus como polo da indústria verde, produzindo energia limpa e resolvendo um dos maiores problemas ambientais do estado que é a destinação do lixo. Precisamos vencer as adversidades políticas e avançar nessa agenda”, destacou Adalberto Maluf, secretário nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental.
Pedro Maranhão, presidente da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), destacou que os desafios são grandes, mas as soluções já existem. “O saneamento básico é uma questão urgente na Amazônia e isso precisa estar na pauta da COP30. Grande parte do lixo gerado nos estados amazônicos atualmente não é tratada, e os aterros sanitários são a solução para isso. Além de preservar o meio ambiente, os aterros são verdadeiros poços de petróleo de energia renovável, fundamentais para o processo de descarbonização da nossa economia. A cidade de Manaus pode ser precursora desse movimento”.
A superintendente de Regulação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Zilda Veloso, ressaltou que a Agência apoia os municípios para desenvolverem suas normas e planos para implantar o manejo adequado dos resíduos sólidos e limpeza pública. Quando os municípios se adequam às normas, isso permite que recebam investimentos e financiamentos de programas do governo federal: “A adesão às normas da ANA permite que os municípios recebam aporte da União para sanar os problemas de saneamento, entre elas, a gestão de resíduos e nós apoiamos os municípios nessa tarefa.”
Visita ao CTTR Amazonas
Após o seminário, jornalistas e convidados visitaram o Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR) Amazonas, empreendimento da Marquise Ambiental, construído com investimento de R$ 200 milhões. O centro está localizado a 40 km de Manaus e foi projetado para atender a capital e municípios num raio de até 150 km.
De acordo com a Marquise Ambiental, o CTTR Amazonas terá capacidade para tratar até 1.700 toneladas de resíduos por dia. O espaço possui células de disposição impermeabilizadas, tratamento de chorume por osmose reversa, poderá realizar captação de biogás e conta com áreas para triagem e compostagem.
O local foi implantado em uma antiga área de extração ilegal de areia, onde foram realizadas obras de recuperação ambiental, incluindo revegetação e criação de corredores ecológicos para fauna nativa.
“O CTTR Amazonas está pronto para operar. É uma solução regional já licenciada, que permite aos municípios cumprirem a Política Nacional de Resíduos Sólidos e resolverem um problema histórico de forma definitiva, gerando energia limpa e transformando o resíduo hoje que não é aproveitado em matéria prima, geração de renda, com tratamento ambientalmente adequado”, explicou Hugo Nery, diretor-presidente da Marquise Ambiental.
Usina de biometano será o próximo o
Anexa ao CTTR, será construída uma usina de biometano com capacidade para produzir 90 mil metros cúbicos por dia, evitando a emissão de 300 mil toneladas equivalentes de CO₂ por ano.
“O biometano transforma um problema ambiental em uma fonte de energia limpa e renovável. É uma oportunidade para a Amazônia liderar uma agenda de economia circular e descarbonização”, concluiu Nery.
Sobre a Abrema
A ABREMA – Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente reúne empresas de todos os estados brasileiros com a missão de fortalecer a representatividade desse segmento econômico junto a players estratégicos e de potencializar ações em defesa da implementação de soluções tecnológicas e ambientais para os desafios de uma economia sustentável e de baixo carbono no Brasil.
Entre seus objetivos prioritários estão a proteção do meio ambiente e a mitigação dos impactos causados pela geração de resíduos sólidos, além de questões tributárias e trabalhistas. A associação também atua no apoio à formulação de políticas públicas que fomentem a economia circular, por meio da valorização de resíduos — como créditos de reciclagem, energia e gás renovável — e da atração de investimentos com base nos pilares da segurança técnica, econômica e jurídica.